TRE-MT capacita servidores com curso de Introdução ao Letramento Racial
“Raça é uma criação colonial para poder legitimar formas de violência que já não eram aceitas na Europa”
Servidores da Justiça Eleitoral de Mato Grosso recebem capacitação sobre Letramento Racial nesta segunda, quarta e quinta-feira (25, 27 e 28.10). O curso é conduzido pela doutoranda em Direito Político e analista jurídica do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), Sabrina de Paula Braga. Com carga horária de 8 horas, o curso é uma referência ao Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro).
“Ser negro é mais do que ter a pele preta e ser descendente de pessoas escravizadas”, destacou Paula Braga. Para além de fenótipos, ela explicou que existem questões de pertencimento, cultura e formas de viver que influenciam na leitura racial das pessoas. Um dos exemplos foi que para ser considerado quilombola, não necessariamente precisa ter a pele preta.
O ponto de partida do curso foi o conceito de Raça, explicado e contextualizado desde a sua criação. Para fundamentar sua explicação, Paula Braga recorreu ao sociólogo e intelectual peruano, Aníbal Quijano. Para ele, “raça é uma criação colonial para poder legitimar formas de violência que já não eram aceitas na Europa”, explicou a ministrante. Ela também elucidou que essa foi uma estratégia política, já que a escravização de povos africanos, por exemplo, ia na contramão dos ideais iluministas que pregavam igualdade, liberdade e fraternidade.
Grandes nomes de intelectuais, como Achile Mbembe e Abdias Nascimento, foram citados, bem como suas ideias e visões sobre as relações de raça e colonialidade. Com um grande apanhado de fatos históricos, questões como colonização, seus efeitos e reflexos na atualidade foram abordados. Paula Braga perpassou discriminação racial, racismo, branquitude, mito da democracia racial e situações vivenciadas por negros. Um dos exemplos trazidos foi o caso do músico do Rio de Janeiro que foi assassinado por militares com 80 tiros de fuzil.
Neste primeiro dia de curso, estiveram presentes 57 servidores que parabenizaram a iniciativa. “É a primeira vez que eu vejo esse tipo de ação no Tribunal e eu particularmente gostei muito do que a professora trouxe”, disse o assessor de Exames de Contas Eleitorais e Partidárias, Rodrigo Martins.
Além da Comissão de Promoção da Igualdade Racial, o curso conta com atuação do Núcleo Socioambiental e de Acessibilidade (NSA/ASPLAN). Já a organização foi estruturada pela Coordenadoria de Educação e Desenvolvimento (CED).
Texto por: Maryelle Campos (Supervisão Daniel Dino)
#DescriçãodaImagem: A imagem que é uma captura de tela mostra a Sabrina de Paula Braga em miniatura no curso online e abaixo dela um slide com o conceito de raça segundo Aníbal Qujano.