Bertin alerta aos eleitos que a política não pode ser sinônimo de coisas erradas

Bertin alerta aos eleitos que a política não pode ser sinônimo de coisas erradas

(Cuiabá/MT - 20/12) Foram diplomados ontem (19/12 - domingo) o prefeito, vice-prefeito, vereadores e suplentes dos municípios de Cuiabá, Barão de Melgaço e Santo Antônio do Leverger. A cerimônia aconteceu no Centro de Eventos do Pantanal, a partir das 20h e contou com a presença do Presidente e do Corregedor do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, desembargador Flávio José Bertin e desembargador Paulo Inácio Dias Lessa.

Durante seu discurso, o presidente do TRE/MT lembrou aos eleitos que a política -não pode se sinônimo de coisas erradas, como normalmente ela é vista pelo grosso da sociedade-, assim, é necessário -fazer crescer o nível moral na política-. Lembrou ainda aos eleitos que eles -têm mais que a obrigação de servirem como exemplos dessa exigência, têm o dever de serem exemplos maiores dessa mudança ética, exemplos maiores da transformação da política em uma atividade correta, em uma atividade sadia-.

Bertin aproveitou o momento para reforçar o pedido que já havia feito aos eleitos em Rondonópolis, especificamente aos prefeitos, de que não frustrem as expectativas dos eleitores.

No sábado (18/12) aconteceu a diplomação dos candidatos eleitos em Várzea Grande e em Nossa Senhora do Livramento. A cerimônia aconteceu no Fórum da Justiça do município, localizado ao lado da prefeitura, a partir das 19h.

Segue abaixo, na íntegra, discurso proferido pelo Presidente do TRE/MT:

DISCURSO PROFERIDO NA SOLENIDADE DE DIPLOMAÇÃO DOS PREFEITOS - 19-12-2004

Meus Senhores e minhas senhoras,

No momento feliz em que a justiça eleitoral, em sessão plenária, diploma os novéis prefeitos e vereadores dos municípios de Barão de Melgaço, Santo Antônio do Leverger e Cuiabá, não poderia o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, através de sua presidência, deixar de saudá-los efusivamente e expressar de forma incisiva o que pretende e espera a sociedade mato-grossense, de todos aqueles, que a partir de agora, serão os grandes responsáveis pela concretização das esperanças de todos aqueles, que no exercício da cidadania, os escolheram para dirigir os destinos de seus municípios.

O momento é tão significante, e tão ilustres os diplomados que numa espécie de aturdimento, fica inibido quem, menos afeito ao uso da palavra, se propõe a expressar sentimentos de respeito, fé, esperança e confiança a tão ilustres representantes do povo.

Entretanto, a noite é especial e festiva, a hora é solene e o instante é grandioso e magnificente para os Municípios de Barão de Melgaço, Santo Antônio do Leverger e Cuiabá, razão pela qual, não podemos nos calar, muito embora sabedores de que em situações que tais, o silêncio diria muito mais do que as mais requintadas palavras.

É uma noite memorável para os senhores candidatos que colocaram seus nomes ao crivo da sociedade, à análise e escolha dos eleitores.

É a noite da coroação de uma jornada de luta, de sacrifícios, de propostas e promessas, e o ato de oficialização de uma conquista.

Assim, por esses motivos, a missão nossa, não só como Presidente do TRE de Mato Grosso, mas principalmente como eleitor, é relativamente difícil.

Minha missão aqui é falar pela sociedade, e conseguir ser ouvido por aqueles que realmente essa mesma sociedade, endereça suas palavras.

O normal é que, em circunstâncias festivas como esta, o que menos se quer é ouvir, é prestar atenção.

Compreendo que a maioria dos senhores se encontra ansioso para deixar este recinto, sair ao longo e extravasar seu contentamento em significativa comemoração. Afinal, todos estão de posse dos seus diplomas e, por conseguinte, legitimados para o cargo postulado e portando a condição de legítimos representantes do povo.

Será, portanto, sempre difícil falar aos que estão esquadrinhando, no rosto, a brisa da vitória, ou àqueles que portam em seus lábios, o sorriso da conquista.

Por isso, quero ser breve e dizer apenas aos que estão atentos as minhas palavras:

PRECISAMOS FAZER CRESCER O NÍVEL MORAL NA POLÍTICA.

E faço essa observação porque tenho consciência de que os senhores candidatos eleitos têm mais que a obrigação de servirem como exemplos dessa exigência, têm o dever de serem exemplos maiores dessa mudança ética, exemplos maiores da transformação da política em uma atividade correta, em uma atividade sadia.

A política pode ser uma atividade complexa e nós até admitimos que seja. Mas não pode mais ser sinônimo de coisas erradas, como normalmente ela é vista pelo grosso da sociedade.

A política forma, entre nós, uma classe. Uma classe diferente, que se sobressai pelo conhecimento, pela informação, pelo poder de discernimento e pelo poder que detém.

É lamentável que a política venha formando uma classe cada vez mais excludente, em que a maioria não tem vez.

Já nos idos do século XVIII, o político português Antonio Candido Ribeiro da Costa dizia: -A POLÍTICA, EM VEZ DE SER A NATUREZA SOCIAL DE TODO O HOMEM, ACABA SENDO A PROFISSÃO DE ALGUNS-.

Resulta sendo, isso sim, a profissão e indústria, quase sempre.

E em geral, acaba caminhando pelas estradas da política, fazendo dela apenas profissão, preocupando-se tão-somente com os que têm a ganhar e esquecendo-se sempre daqueles que têm tudo a perder.

Esse é, por conseqüência um dos principais, se não o principal mal da nossa sociedade, que depende, em todos os seus prismas da ação política em praticamente todas as áreas.

Erro gravíssimo cometem todos ou cometemos todos, ao permitir que a política continue sendo aceita e vivida pelo aspecto mais pejorativo.

Deveríamos somente permitir e ensinar o exercício da atividade política como obra e arte sadia e salutar da convivência em sociedade, da necessidade madura e imprescindível de se ter representantes à altura de gerir os interesses da massa, da necessidade imperativa de se ter uma maneira de o povo conviver de forma organizada e civilizada.

Mas nem sempre é assim que ocorre, pois, se para a política caminham muitos que têm a ganhar, certamente o ganho de uns é pura perda dos outros.
Como a maioria da sociedade dificilmente virá a intervir nas coisas públicas, e dificilmente colocará em relevo suas virtudes que ainda porta, não nos resta outra alternativa, aproveitando da posição que ocupo e aproveitando da atenção dos senhores, senão a de cobrar a elevação do nível moral na política e pedir que os senhores sejam os artífices dessa evolução.

Tenho a certeza de que os senhores, como bons políticos que são e que almejam a participação cada vez maior da sociedade na política, farão exatamente isso. É a certeza, e mais do que isso é a esperança de todos nós, sociedade, povo, cidadão e eleitor.

O bom político sacia-se da participação da maioria e bebe da presença da massa organizada que, pelas diversas formas, indica o caminho para os líderes.

Já o mau político repousa confortável na indiferença dos povos, no silêncio omisso da parcela carente da população, esta sem condição de cobrar, porque, sem meios para tanto, ou porque, para muitos, cobrar É SE ENVOLVER.

O mesmo político português, Antonio Candido, certa vez narrou uma história:

-Navegava um navio pelo mar. Os marinheiros mataram o capitão e, depois, guerrearam entre si, desesperadamente, disputando o leme. Os passageiros sentados comodamente assistiam aquela fúria insana, até contemplando, com gosto, a sua própria IMENSA SABEDORIA, de não se envolver na briga. Ninguém prestou atenção ao estado do céu. De repente, desceu uma temerosa tempestade e o barco, com todos que estavam juntos, vai para o fundo do mar-.

Esta história traz em seu âmago a lição de vida de que, ou estamos todos juntos na responsabilidade de primeiro eleger, depois fiscalizar e, finalmente usufruir os resultados, da administração das cidades, dos Estados e do próprio País, ou então, afundaremos todos e estaremos, indistintamente fadados a sucumbência e ao fracasso.

Grande parte da nossa sociedade tem a cultura de eleger representantes e depois, tal qual uma avestruz, esconder a cabeça no buraco, fingindo ignorância para as coisas da coletividade que são gerenciados pelo Executivo e Legislativo. Permanecem alheios, como se não mais estivesse em jogo a nossa própria casa, o nosso próprio futuro, a nossa própria vida.

E por vezes, a sociedade assiste de longe os erros, as omissões, o desperdício ou a corrupção, e por vezes, essa impassividade ocorre por parte dos nossos próprios fiscais escolhidos mediante o voto.

Isso ocorre quando o legislativo se contenta apenas com papéis menores, colocando-se na condição de mera força auxiliar do executivo.

Não pode ser assim. Não deve ser assim.

O Parlamento deve servir para fiscalização efetiva dos homens públicos e de seus atos.

Mas para isso será preciso que ali mesmo, no legislativo, na casa do povo, se sinta presente, pulsante e em acentuado tom, a opinião pública.

Não podem os senhores vereadores viver no silêncio e na solidão, atendendo apenas os interesses destes ou daqueles eleitores. Não podem viver isolados da sociedade, como se estivessem em um deserto, onde não pululam debates e trabalho.

Especificamente para os prefeitos eleitos, reforço a recomendação já dita em outras solenidades de diplomação:

Não frustrem a expectativa dos eleitores. Não frustrem as nossas expectativas.

Com seriedade, reflitam sobre a responsabilidade que estão por assumir. Lembrem-se, com profundidade dos compromissos assumidos em campanha. Revisem seus programas e lembrem-se, enfim, que um dos grandes problemas do Brasil é exatamente a frustração de expectativa.

É bem verdade que a nossa sociedade é persistente, - o brasileiro nunca desiste.

Mas quando suas expectativas são frustradas, ele sente um profundo abatimento, que por vezes o leva à descrença e à desesperança.

O cidadão eleitor, por mais descrente que esteja com a classe política e mesmo tendo sido vítima de traição e estelionato eleitoral, preserva, ainda assim, uma dose de expectativa após a eleição. É a esperança de, finalmente, ter acertado na escolha.

Afinal, ao votar, o cidadão escolhe o seu representante, outorga-lhe uma procuração, emite um cheque em branco.

Não se esqueçam, todavia, de que a compensação desse cheque em branco, bem como a cobrança do uso da procuração serão feitas pela população, que a cada ano que passa lança mão dos novos mecanismos de fiscalização e até de punição, sempre com a efetiva participação da justiça brasileira.

Portanto, o político não tem o direito de errar; não tem o direito de frustrar a esperança; não tem o direito de trair as expectativas.

Por isso, senhores eleitos, sinto-me à vontade, para dizer, como eleitor e cidadão que sou, que não dá mais para aturar candidatos eleitos que não cumprem o prometido. Espero, portanto, que os senhores aqui presentes sejam exemplos de representantes compromissados com as suas próprias promessas. Afinal, a maioria da sociedade votou nos senhores e em suas propostas de trabalho.

Sejam assim um exemplo de coerência, de persistência e de participação.

Sejam, enfim, ícones de uma nova era, onde a moral e a ética política afloram brilhante e reluzente, como sinônimos dos seus próprios nomes.

Sejam também pacientes, educados e atenciosos no trato com seus liderados.

E assim sendo, serão os senhores, dignos dos votos que receberam. E nós, eleitores, seremos dignos e orgulhosos de nossos representantes, pois tal qual é o chefe de uma cidade, assim serão os habitantes.

Desejo-lhes felicidades nesse cometimento tão nobre quanto árduo.

E que o sentimento de esperança e emoção que nesta data invade suas almas permaneça em seus corações, no decorrer de toda a sua existência, para que, ao final de seus mandatos reste o consolo do dever cumprido e, também, de estar levando para a velhice, no acervo de sua bagagem, um exemplo de profissional e cidadão exemplar e do qual se orgulharão seus filhos, e então possam descansar em paz com suas próprias consciências.

SÊDE FELIZES E QUE DEUS LHES AJUDE NO COMETIMENTO DESSES PROPÓSITOS.

Des. Flávio José Bertin.


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