Bertin alerta candidatos para que não frustrem expectativas dos eleitores
Bertin alerta candidatos para que não frustrem expectativas dos eleitores
(Cuiabá/MT - 14/12) O presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Flávio José Bertin, em discurso na cidade de Rondonópolis, alertou aos candidatos eleitos de que não frustrem as expectativas dos eleitores lembrando-os que -o grande problema no Brasil é exatamente a frustração da expectativa-. Cobrou também aos candidatos que repensem com seriedade sobre os compromissos assumidos em campanha, uma vez que o político -não tem o direito de errar; não tem o direito de frustrar a esperança; não tem o direito de trair a expectativa que todos estarão nutrindo em torno de seu trabalho, da sua dedicação e do seu compromisso-.
Rondonópolis, terceiro maior colégio eleitoral, diplomou seus
eleitos na sexta-feira passada (10/12), às 20h, no Ginásio do Sesc. Receberam o diploma o prefeito eleito Adilton Domingos Sachetti (PPS), seu vice, Manoel Machado (PSC), 12 vereadores, além de três vereadores suplentes de cada partido.
Veja abaixo, na íntegra, o discurso do presidente do TRE/MT:
Meus Senhores e Minhas Senhoras,
Mais uma vez o Tribunal Regional Eleitoral se faz presente neste pedaço de rincão matogrossense, agora para participar da coroação da grande festa democrática do dia 03 de outubro passado, ou seja, da diplomação de todos aqueles que, depois de árdua jornada, tornaram-se, por vontade expressa e soberana do povo, os legítimos representantes desse mesmo povo.
A simples outorga desse diploma, por si só nada representaria, se no ato não estivesse envolvido a vontade popular, está assentada na expressão máxima da liberdade, da democracia e do Estado democrático de Direito, garantias que sombreiam a nossa sociedade.
Participar da solenidade de diplomação dos prefeitos e vereadores eleitos, ou seja, dos nossos futuros gestores e legisladores municipais, exige-me redobrada responsabilidade, pois fico com a incumbência de falar aos diplomandos e convidados, o que não é tarefa fácil, mormente para os desprovidos de verve fácil e fluente.
Serviria-me a oportunidade, certamente, para fazer um balanço das atividades desenvolvidas pela Justiça Eleitoral. Afinal, 2004 foi um longo ano de trabalho, um ano de grande dedicação e redobrada luta para que as eleições municipais transcorressem com tranqüilidade.
Mas não farei isso, limitando-me apenas a resumir a justiça eleitoral, numa única frase: missão cumprida.
Tínhamos uma tarefa a desenvolver, um caminho longo à percorrer e uma obstinação a perseguir: garantir que as eleições fossem realizadas dentro dos mais elevados padrões de ética, transparência e lisura. E a missão complementar, que é julgar os casos em que os candidatos não respeitaram as regras ou cometeram crimes eleitorais.
Mas, nós fizemos a nossa obrigação e realizamos, com a ajuda do Onipotente todas as eleições, nos 141 municípios que compõe o Estado de Mato Grosso. E mais, também estamos julgando todos os casos pendentes, inclusive cassando aqueles que afrontaram as leis.
Esta diplomação, é portanto, o ponto final da nossa missão. Por isso, quero usar desta valiosa oportunidade para falar não mais em eleição, mas, sobretudo o que se refere aos senhores candidatos eleitos, a nós eleitores, e, enfim, a sociedade como um todo.
Quero falar de expectativa.
Nos discursos, sempre que alguém procura ministrar conselhos, invariavelmente esquece que ao se dar conselhos, deixa-se de oferecer a sabedoria para aproveitamento desses conselhos.
Muitas vezes, nem mesmo aquele que dá conselhos tem a sabedoria de aproveitá-los em seu próprio benefício.
Mas, mesmo fazendo essa ressalva, arvoro-me a dar um conselho aos senhores candidatos eleitos, aqueles que receberão da Justiça Eleitoral, o diploma que certifica e legitima a escolha dos eleitores:
Não frustrem a expectativa dos eleitores
Não frustrem as nossas expectativas.
Portanto, reflitam com profundidade sobre a responsabilidade que estão por assumir.
Repensem com seriedade sobre os compromissos assumidos em campanha.
Revisem seus programas de governo e planejem suas decisões, pois, o grande problema no Brasil é exatamente a frustração da expectativa.
É bem verdade que o brasileiro não desiste nunca; mas quando alguma expectativa é frustrada, sente um aguçante abatimento, que por vezes o leva a descrença e a desesperança.
O cidadão, por mais descrente que esteja com a classe política, mesmo tendo sido por inúmeras vezes traído por partidos e por políticos, preserva, ainda, assim, uma dose de expectativa após a eleição, quer do Presidente, quer do Governador, quer do Prefeito ou daqueles responsáveis pelo poder legislativo.
Afinal, em cada pleito, o cidadão escolhe o seu representante, outorga-lhe uma procuração, e espera do outorgado um desempenho condizente com a sua expectativa.
E essa transferência de poder é muito maior, quando a eleição é municipal e de tamanha pujança e responsabilidade com a escolha do prefeito e de vereadores, que para alguns, é como escolher esposa ou marido, principalmente quando se escolhe prefeitos e vereadores de médios e pequenas cidades, como é o caso da esmagadora maioria das cidades brasileiras.
Nessas cidades a relação com os candidatos eleitos é de muita amizade, ou pelo menos, de relativa proximidade, onde, acima da confiança, está sempre a cumplicidade.
A esperança dos eleitores é sempre no sentido de que, finalmente, acertaram na escolha.
Portanto, o político não tem o direito de errar; não tem o direito de frustrar a esperança; não tem o direito de trair a expectativa que todos estarão nutrindo em torno de seu trabalho, da sua dedicação e do seu compromisso.
Há que se dizer, que por vezes a frustração ocorre de forma involuntária, quando o eleito se vê na necessidade de correção de rumos ou por questões conjunturais. Quando, em nome da estabilização, como vemos hoje no plano nacional, desvia-se do rumo anunciado e abandona prometidos programas sociais, justamente aqueles que certamente garantira sua vitória.
Felizmente, somos um povo amistoso, que aceita como razoável compreensão as justificativas plausíveis. Entretanto, nos últimos tempos, os políticos - e isso é lamentável - não tem se dignado a nem mesmo dar satisfação quando erram. E isso também é frustrante, para não dizer revoltante.
E, exatamente por essa sina e como cidadão, eleitor e povo que sou, creio que posso falar por todos.
Não dá mais para aturar candidatos eleitos que não cumprem o prometido;
Não dá mais para aturar candidatos eleitos que descumprem promessas mais elementares;
Não dá mais para aturar candidatos eleitos, incoerentes, insensíveis, descompromissados com o social e o desemprego, que tiram a máscara no exato momento em que tomam posse no cargo;
Não dá mais para aturar candidato que se elege com um discurso e, no fundo, só procura ou busca o conforto do cargo.
Dos Senhores, espero uma postura diferente.
A sociedade estará atenta aos vossos passos. Os Senhores estão hoje recebendo um cheque em branco, assinado, mas a compensação será feita pela Sociedade, pelos eleitores, por nós, como cidadãos. Nunca se esqueçam desse fato.
Sejam coerentes.
Sejam persistentes.
Sejam participativos.
Busquem o conhecimento das modernas técnicas de gestão da administração pública, sem contudo perderem a ternura.
Saibam sopesar suas decisões, sem receio de serem inventivos, sem medo do aprofundamento dos debates ao posicionamento de soluções arrojadas.
Lembrem-se sempre que o caminho mais fácil é geralmente o caminho da omissão.
O romancista francês Anatole de France disse certa vez que -a lei burguesa proibe, ao rico tanto quanto ao pobre, com a mesma majestade, dormir embaixo das pontes.-
O caminho mais fácil é proibir a qualquer um, dormir embaixo das pontes. Nunca se busca o caminho da solução para o problema da falta de habitação para todos.
Até quando plantaremos gramados que não podem ser pisados, porque um dia alguém disse -não pise na grama-?
Até quando teremos ruas que não podem ser transitadas porque alguém disse um dia que custa caro asfaltar e manter o pavimento?
Até quando teremos cidades que não podem ser habitadas porque não temos coragem de nos enfrentar e organizar a ocupação desses espaços?
A minha expectativa é que os senhores comecem a mudar a triste história que normalmente vivemos, quando entregamos a direção desta nave que é a cidade onde vivemos.
Acreditamos nos Senhores. E, principalmente, acredito no compromisso dos nossos candidatos eleitos.
Tenham sempre em mente que dentro do processo democrático em que vivemos, o poder é efêmero e não tem dono. Só se torna duradouro e é de todos, quando, embora exercido por um, representa a vontade de todos. Isto é a democracia consagrada na Carta Política Brasileira, quando explicita:
-Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.-
Se têm que exercer o poder em nome do povo, façam de forma correta para que aqueles que os confiaram esse poder não venham a se sentirem traídos em seus ideais ou em suas esperanças.
Trabalhem com amor, para que ao fim de seus mandatos, possam retornar aos seus lares e receberem o respeito da sociedade, o reconhecimento do cidadão, o abraço dos amigos e o beijo quente de seus filhos, porque acima do reconhecimento da sociedade, acima do respeito do cidadão, acima do abraço dos amigos e acima mesmo do beijo quente de seus filhos, está os loiros de paz e tranqüilidade de vossas próprias consciências.
Parabéns e que Deus os iluminem nessa dignificante jornada.
Muito obrigado.
FLÁVIO JOSÉ BERTIN
Presidente TRE/MT